Livro “Baladas proibidas” narra a história do “Rei do Ecstasy” de São Paulo

Com a ajuda do escritor Bolívar Torres, Gabriel Godoy conta a história de sua vida: de garoto do interior a um dos maiores traficantes de drogas sintéticas do país

Gabriel Godoy nasceu numa cidade pacata, com apenas 20 mil habitantes. Mas foi só começar a crescer para perceber que suas ambições se expandiam para além das fronteiras da pequena Serra Negra, no interior de São Paulo. Aos 18 anos, deixou a família para ganhar o mundo. Começou ali, meio que por acaso, um caminho perigoso pelo universo do tráfico de drogas, que lhe rendeu diversão e dinheiro, mas também sofrimento, perdas e até uma temporada na prisão.

A impressionante trajetória do “Rei do Ecstasy”, como ficou conhecido na época em São Paulo, é o tema de “Baladas proibidas”, que chega às livrarias pela Record no fim de janeiro. Narrada em primeira pessoa, a história de Gabriel ganha forma pelas mãos do jornalista e escritor Bolívar Torres, que passou nove meses conversando diariamente com o personagem para destrinchar sua memória em busca de detalhes desta jornada.

O texto guia o leitor cronologicamente pela vida de Gabriel: no começo, descobrindo as festas de música eletrônica no litoral de São Paulo; o primeiro contato com as drogas sintéticas; a excitação inicial ao revender as “balas” de outros traficantes. À medida em que mostra a evolução de Gabriel neste universo, o livro faz um retrato do cenário tão específico no qual se desenrola o tráfico de substâncias como o ecstasy e o LSD. O deslumbramento do menino do interior com as festas, a música, o prazer e os consumidores das mais altas classes sociais ajudam a mascarar o lado mais feio, o da corrupção policial, da violência, das extorsões e da prisão.

Há ainda relatos sobre os meses de encarceramento do protagonista – onde ele seguiu expandindo os negócios – e a volta por cima ao sair da prisão. Na época, Gabriel chegou a distribuir cerca de 100 mil comprimidos de ecstasy por mês na capital paulista. Mas com o auge veio também a queda: os riscos constantes, a prisão de alguns parceiros e a perda de outros acabaram contribuindo para a decisão de, enfim, abandonar o tráfico. Hoje, Gabriel trabalha na ressocialização de ex-detentos, é palestrante e empresário.

TRECHO:

“Mais uma vez, eu ia me infiltrando no mundo da alta sociedade. Estava vendo de perto a vida íntima daquelas pessoas que torravam dinheiro loucamente, sem se preocupar com o amanhã. Eram as drogas que haviam me colocado ali, em contato direto com a elite do país. Filhos de empresários, herdeiros de vida fácil, alguns ainda na faculdade, outros formados em direito, medicina… Eu sequer havia terminado o colégio. Tínhamos origens e histórias de vida opostas, e eu sabia que, na teoria, não era para estarmos juntos, na mesma sala, dividindo os mesmos papos, os mesmos produtos de luxo, a mesma vida despreocupada. A verdade é que, se não dependessem de mim para conseguir bala, aquela galera não me daria bem boa-noite – muito menos me chamaria para uma festa particular.”

ORELHA:

“Esqueça quase tudo o que você sabe sobre tráfico de drogas. Aquela história de favelas, armas pesadas, domínio territorial, comandos, ribanceiras que viram nações. Neste livro, o comércio de substâncias proibidas não é aquele que interrompe a tiros a paz ilusória de nossas cidades ou que nos choca pelos jornais e pela TV. Gabriel Godoy, o protagonista que relata sua história ao jornalista e escritor Bolívar Torres, poderia ser nosso filho, ou um primo ou sobrinho morador de um subúrbio ou do interior. Um rapaz que descobre o universo das raves e das drogas sintéticas, vira traficante e se torna o Rei do Ecstasy. Tudo muito rápido e alucinante, um delírio em que tudo é superlativo, drogas, álcool, festas, sexo, carrões, iates. Uma vida que, aditivada, desafia a passagem do tempo, dia e noite deixam de ser referências, não pode haver limites para o prazer. Um universo que flerta com a irresponsabilidade da infância, que fala em doces e em balas, compostos químicos que ganham nomes como os de personagens de desenhos animados. Brincadeira perigosa, que gera mortes, prisões e extorsões – também neste tráfico, a ilegalidade é o combustível da corrupção policial. Os convidados destas Baladas proibidas trafegam acima de qualquer limite de velocidade e correm sempre o risco de não passar da próxima curva.” (Fernando Molica)

Gabriel Godoy nasceu em 1988, no interior de São Paulo. Hoje produz o canal do YouTube “Trilhando outro caminho”, em que atua na prevenção ao vício das drogas e mostra que é possível a ressocializacão de ex-criminosos. Também é palestrante e empresário, especializado em programação neurolinguística pela SBPNL. Bolívar Torres nasceu em Porto Alegre, em 1981. Jornalista e escritor, trabalhou em veículos como Jornal do Brasil e O Globo. É autor do romance “Não muito” (7Letras, 2013).

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