Volta dos Caboclos encerra programação pelo 2 de Julho nesta quarta (5)

Depois de cinco dias de festividades, desde a chegada do Fogo Simbólico em Pirajá no último sábado (1º), as comemorações pela Independência do Brasil na Bahia serão encerradas nesta quarta-feira (5), a partir das 18h30, com a Volta dos Caboclos. Esse é o momento em que os carros emblemáticos do Caboclo e Cabocla, que estiveram na Praça Dois de Julho (Campo Grande) desde o domingo (2) retornam ao Pavilhão Dois de Julho, no Largo da Lapinha. O evento faz parte da programação cultural promovida pela Prefeitura, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM).

Para seguir a tradição da parte mais animada dos festejos ao Dois de Julho, os participantes serão acompanhados pela Orquestra do Maestro Reginaldo de Xangô, fanfarras e grupos culturais. O percurso é o mesmo do realizado no dia 2, só que no sentido inverso: Campo Grande, Avenida Sete de Setembro, Praça Castro Alves, Rua Chile, Praça Municipal, Terreiro de Jesus, Pelourinho, Santo Antônio, Soledade e Lapinha. As atividades envolveram a realização do Encontro de Filarmônicas, no domingo (2), e do Baile da Independência, na segunda (3), ambas realizadas no Campo Grande.

Encontro – Os aspectos que tornam a Independência do Brasil na Bahia como parte importante do patrimônio cultural da cidade foram abordados no quarto encontro do projeto “Patrimônio É…”, realizado no Espaço Cultural da Barroquinha na noite de terça-feira (04). Promovida pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), a iniciativa faz parte do programa Salvador Memória Viva, que visa proteger e estimular a preservação do patrimônio cultural da cidade.

O encontro contou com as presenças da professora e escritora Antonietta Nunes, autora do livro “Salvador, a primeira capital do Brasil”; do cientista social e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Fábio Baldaia; do maestro Fred Dantas, um dos idealizadores do Encontro de Filarmônicas do 2 de Julho; e Tata Anselmo Santos, fundador do Terreiro Mokambo, localizado no bairro do Trobogy.

A professora Antonietta Nunes trouxe à plateia uma abordagem esclarecedora e apurada da data magna baiana. “Não vou falar da Independência da Bahia porque já éramos independentes desde o momento em que Dom João VI, ainda como o príncipe regente, elevou o Brasil e Algarves (província portuguesa) à condição de reino”, iniciou. Ela explicou que Portugal tentou retomar a soberania da colônia após a designação oficial de Dom João VI e de revoluções liberais europeias do século XVIII, a exemplo da Revolução Francesa, que inspiraram a luta da população brasileira pela busca do direito de igualdade.

“Por aqui pelo país já havia acontecido as inconfidências mineira, carioca, pernambucana, baiana. Todos esses movimentos buscavam a implantação de uma república”, prosseguiu a professora. Uma das medidas tomadas por Dom João VI para manter o legado conquistado na América Portuguesa foi deixar o filho, Dom Pedro I, para cuidar do império – D. João já havia sido coroado rei e estava de retorno para Portugal.

Por volta de 1822, Portugal resolveu mudar o comandante das armas no Brasil ao tentar trocar o brasileiro Manuel Pedro de Freitas Guimarães pelo português Inácio Luís Madeira de Melo. Um desacordo entre Câmara e a Junta Governativa de Salvador fez o europeu ficar furioso e tomar a cidade à força, assumindo, com isso, todo o poder bélico.

A atitude foi considerada um dos estopins para que os baianos fossem a campo em busca da total independência. “A partir daí houve uma concentração expressiva de cidadãos no Recôncavo. O único jeito de tomar Salvador – que era uma cidade fortificada -, sem armas, era não deixar chegar alimentos de fora. O plano foi executado e tornou possível a rendição dos colonos”, completou Antonietta.

Hino – Nasce o sol a 2 de julho/ Brilha mais que no primeiro/ É sinal que neste dia/ Até o sol é brasileiro. Os versos do hino ao Dois de Julho são para o maestro Fred Dantas “uma poesia verdadeira”. Ele falou sobre o significado histórico da canção e do trabalho realizado à frente do Encontro de Filarmônicas, que acontece há 26 anos durante os festejos da Independência da Bahia.

“O hino ao Dois de Julho foi composto por Ladislau dos Santos Titara. Ele era filho de advogado e chegou a ser major do Exército brasileiro, participando junto com o general Labatut diretamente do conflito em armas. Ladislau compôs esse hino em 1824, em parceria com o Santos Barreto”, esclareceu Dantas. Ele comentou que o cântico tem a simbologia de testemunho. “Não é um hino encomendado, feito a posteriori por alguém ou que foi escolhido por meio de um edital. Foi feito por alguém que lutou nessa guerra”, acrescentou o maestro.

Religiosidade – No encontro, Tata Anselmo falou sobre uma das figuras mais emblemáticas durante as comemorações para o Dois de Julho: os caboclos. Para ele, os personagens, que percorrem todo o ano em cortejo da Lapinha até a Praça do Campo Grande, agregam uma vasta gama de significados, ultrapassando, muitas vezes, o sentido cívico. “As pessoas começaram a depositar a sua fé e devoção muito grandes nesses ícones, elevando essa condição cívica a uma condição mística. Hoje é comum encontrar no carro dos caboclos bilhetes, pedidos. É a fé popular que elevou eles a patronos do desfile”, argumentou o religioso.

Símbolos – O cientista social Fábio Baldaia explanou sobre os ritos e símbolos integrados aos festejos da emancipação baiana, que compõem e influenciam na constituição da memória e da tradição histórica. Ele citou o Fogo Simbólico, os Caboclos e o cortejo que reproduz a entrada do exército libertado, entre outras manifestações.

“Ao mesmo tempo que a comemoração ao Dois de Julho traz uma baianidade cívica, de exaltação nacional, patriótica, também traz as partes religiosa, artística, estética, política e de contestação popular. Tudo isso compõe o painel geral que faz com que as pessoas vivam a nacionalidade. A composição desses pequenos rituais e símbolos faz com que a população a cada ano reviva e reative memórias que foram construídas há quase dois séculos”, completou.

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