Médica alerta para a divulgação de informações falsas sobre autismo e TDAH

A divulgação de informações falsas sobre distúrbios neurocomportamentais, como o autismo, podem levar os pais a acreditar em curas milagrosas ou até mesmo deixar de vacinar os filhos. O alerta foi feito pela neurologista Ana Low, especialista em neurologia infantil e neurofisiologia clínica pela Universidade de Ottawa, Canadá. Em palestra nesta quinta-feira (22), no Senado, a especialista alertou para várias informações falsas divulgadas atualmente, que podem prejudicar pais e crianças.

A palestra “Autismo e Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade: distúrbios neurocomportamentais que interferem no desenvolvimento da criança” foi promovida pela Comissão de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz, do Senado.

Como exemplo de informações falsas que geraram consequências graves, ela citou a divulgação de estudos que associavam, por exemplo, as vacinas ao autismo. O transtorno comportamental compromete o desenvolvimento da linguagem, a socialização, a coordenação motora e dificulta a expressão de afetividade por outros indivíduos.

Um desses estudos, publicado em 1998, apontou uma relação entra a vacina MMR – que protege contra sarampo, rubéola e caxumba – e o transtorno. Muitos pais deixaram de vacinar os filhos, o que gerou epidemias como a de sarampo na Europa. Anos depois, o artigo foi considerado fraudulento e o pesquisador se retratou.

Outro alerta feito pela neurologista foi sobre o anúncio de dietas que seriam capazes de curar o autismo, como uma alimentação com itens orgânicos e variados, sem glúten, sem lactose. Para ela, as recomendações feitas, em geral, serviriam para qualquer criança, não apenas para as autistas.

– O desespero pela cura do autismo faz os pais buscarem uma miscelânea de coisas, que podem beneficiar qualquer criança, mas não vão curar o autismo – afirmou.

TDAH
A neurologista também falou sobre o Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que tem sido muito diagnosticado nas últimas décadas. De acordo com Ana Low, o TDAH não é uma doença nova, apesar de muitos terem essa impressão. Em livros com mais de 200 anos, já existiam figuras e poemas que descreviam os sintomas desse distúrbio cognitivo em crianças.

A “explosão” recente da doença, de acordo com a pesquisadora, pode ter relação com o aumento dos níveis de exigência atuais. A desatenção característica da doença pode ou não vir associada à hiperatividade e à impulsividade. Além disso, tanto o TDAH como o autismo podem ter comorbidades, outros problemas de saúde que aparecem em quem tem os transtorno.

– O enfoque tem que ser variado, justamente por essa multiplicidade de apresentação. O tratamento mais importante é a equipe multidisciplinar integrada. Nenhum profissional sozinho vai resolver os problemas – explicou a médica, que também ressaltou a necessidade de orientação para a família, parte importante no processo.

A médica também alertou para a banalização de drogas psicoestimulantes usadas para tratar a condição, como a Ritalina, por exemplo. De acordo com Ana Low, muitas pessoas que sequer foram diagnosticadas buscam a medicação.

A palestra, gratuita, foi transmitida ao vivo pelo youtube da TV Senado para todo o Brasil. Pelo canal, a internauta Jaiana Barbosa disse que o evento ajudou a esclarecer dúvidas que tinha sobre o comportamento do filho.(Ag. Senado) Foto: Roque de Sá/Agência Senado

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